Iúna adota uma nova modalidade de velório
A convite dos familiares, o repentista Acanhado e um grupo de amigos fazem roda de viola e sanfonada em volta do caixão
Uma nova modalidade de homenagear pós vida, pessoas de valor cultural importante em Iúna, tem aparecido ultimamente. Em vez do choro e desespero na despedida, as homenagens com músicas, acompanhadas dos instrumentos tradicionais, como a viola e a sanfona, tem sido o meio mais amenizador do sofrimento e conforto aos familiares. Para quem gosta da boa música, do forró, dos programas sertanejos de rádio, dos bailes, entre outros, vem acontecendo constantemente os convites das famílias para uma roda de viola em torno do caixão para a última despedida. Principalmente quando em vida a pessoa valorizava estas coisas e até solicitava que assim fosse feito, quando morrer!
Quem coordena essas homenagens é o repentista, locutor, compositor e radialista Edmar Henriques da Costa "Acanhado". Ele reúne um grupo de amigos instrumentistas e cantores, com muita boa vontade, ninguém cobra nada por isso. Faz parte dessa caravana: Justino Leandro, Cleyton Aguiar, Celinho do Acordeon, Jurubeba, a dupla Márcio & Rodrigo da Viola, João Júnior, Cici, entre outros. Nesses casos, em se tratando de pessoas conhecidas, os músicos já sabem o ritmo que agrada os familiares e as músicas que o falecido mais gostava. É logico que isso só acontece quando é um pedido da família.
O primeiro velório musical aconteceu com a morte da lendária "Flor da Índia", esposa do sanfoneiro Canhotinho. Dois personagens fortes do folclore iunense. Os dois mantiveram viva a Folia de Reis em Iúna por mais de quarenta anos. Foram compositores da música "Areia Nela", um sucesso nos bailes, nas rodas musicais, nas cantorias e nos concursos. Faziam shows em festas comunitárias no município e na região. Durante o velório, os músicos prestaram as homenagens encerrando a cantoria entoando a música de autoria da dupla.
Um pedido feito em vida e depois confirmado pelos familiares ocorreu com a morte do ex-prefeito Lino Garcia. Sempre que encontrava Acanhado, dizia que no seu velório queria a música "As Andorinhas" do Trio Parada Dura. Acanhado com seus repentes cantou vários versos enaltecendo a vida do ex-prefeito. Depois, puxou a música mais pedido por ele, "As Andorinhas". Muita emoção e aplausos pela enorme multidão presente na despedida. Para finalizar, não podia faltar a paródia de campanha: "Mexe, Mexe Que é Bom" de Zezé de Camargo e Luciano, com a letra "Lino Garcia de novo tá no meio do povo, é a maior emoção", arrancando lágrimas e soluços, tamanha a emoção do público.
Depois disso, o velório do sonoplasta, incentivador dos artistas amadores de Iúna, Jasson Belo, foi também palco de uma bela roda de viola e sanfona. Em outra oportunidade, no velório de Welinton Justo, gerente do Lojão dos Móveis, a roda de viola aconteceu na porta do cemitério, momento em que foi aberto o caixão para a última despedida. Welinton era um jovem muito querido na cidade, morreu de acidente de ciclístico.
Recentemente, na Comunidade de Criciúma, município de Ibatiba, quem recebeu as homenagens do Acanhado e seu grupo neste final de semana foi o ouvinte do programa Domingão na Roça, Dejair Amaro dos Santos, pessoa humilde e muito simples, daquela localidade. Após o programa, ele visitava as casas repetindo as informações que ouvira na voz do radialista Acanhado.
Há mais de dez anos, Acanhado frequentava a casa de Dejair, por ocasião do aniversário, fazendo uma festa pra ele. Levava consigo a sonorização, os músicos e as pessoas da comunidade preparavam o jantar e o bolo. Dejair faleceu nesta semana aos 77 anos, vítima de parada cardiopulmonar. Dessa forma, Acanhado e seus colegas músicos vão prestando um grande serviço à sociedade, prestando a última homenagem às pessoas que valorizam a cultura local. Segundo ele, com o carinho que recebia com a pessoa em vida, fica difícil não atender o pedido dos familiares.
Veja o vídeo abaixo:
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