Pandemia: entretenimento amarga prejuízos

Pandemia: entretenimento amarga prejuízos

Pandemia: entretenimento amarga prejuízos

"O impacto foi devastador". A afirmação é do empresário Márcio Ribeiro, que trabalha com eventos no Espírito Santo. Após seis meses de estado de emergência decretado pelo Poder Executivo estadual devido à pandemia do novo coronavírus, o entretenimento, assim como os outros setores da economia, ainda tenta sobreviver e retomar suas atividades.

É fato que todos os segmentos acumularam grandes perdas, e, alguns, ainda enfrentam dificuldades para se adaptar ao "novo normal" - o bordão do momento. Os shows e eventos de maior porte são a ponta de um enorme ecossistema de consumo social. É um mercado que envolve uma grande cadeia de consumo como bebidas e vestuário, por exemplo; além de salões de beleza e meios de transportes.

No setor de entretenimento, empresários, produtores e outros profissionais que vivem desse ofício contabilizam enormes prejuízos. Segundo a Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape), dois milhões de empregos diretos e indiretos foram afetados nesse período.

De acordo com o secretário de Estado da Cultura, Fabricio Noronha, um novo planejamento está sendo preparado para os profissionais dessa área, contemplando uma retomada gradual e responsável das atividades, estabelecendo regras para cada segmento de acordo com as particularidades de cada um.

Ele explicou que a discussão dos protocolos para a retomada do setor de eventos segue na pauta de discussões do governo do Estado, em grupo de trabalho formado pelas secretarias de Cultura, Turismo e Saúde.

Segundo Noronha, já estiveram na pauta protocolos para eventos coorporativos e sociais, bem como funcionamento de museus, galerias e bibliotecas. Os protocolos para eventos de entretenimento, teatro e circo são os próximos a serem discutidos, assim como eventos com maior quantidade de público. O estabelecimento de um cronograma para o retorno é condicionado à diminuição do risco sanitário da população e os protocolos serão publicados no Diário Oficial do Estado.



Os números do entretenimento

No Brasil, de acordo com Noronha, os setores criativos, como cultura e eventos, movimentam R$ 171,5 bilhões por ano, o equivalente a 2,61% de toda a riqueza nacional, empregando 837,2 mil profissionais.

"Anteriormente à pandemia, estava previsto que os setores culturais e criativos gerassem R$ 43,7 bilhões para o PIB brasileiro, até 2021. Para um panorama do prejuízo do setor, a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), em parceria com outras secretarias e a Unesco, lançou a 'Pesquisa de Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos no Brasil'. Os resultados finais serão divulgados em breve", afirmou. O secretário não informou os números relativos ao Espírito Santo.



Lei Aldir Blanc

Fabricio Noronha ainda disse que a Lei Aldir Blanc (Lei 14.017), destinada a socorrer o setor na pandemia, vai trazer quase R$60 milhões em investimento para a cultura do Espírito Santo. A Secult já preparou um plano de execução e levantou, junto ao Conselho de Cultura, uma comissão de monitoramento dessa execução no Espírito Santo. As exigências do Ministério do Turismo, como cadastramento de conta no Banco do Brasil e envio do Plano de Ação, já foram cumpridas.

O próximo passo é o cadastramento de trabalhadores do setor cultural para receberem os benefícios. Essa etapa começa após o envio dos recursos, ou seja, o governo federal vai aprovar o plano feito pelo governo do Espírito Santo e destinar a verba para a Secretaria da Cultura.

Parte do montante será aplicada na renda emergencial, de R$600 por mês, e a outra fatia vai para o subsídio mensal para manutenção de espaços artísticos e culturais, microempresas e pequenas empresas culturais, cooperativas, instituições e organizações culturais comunitárias que tiveram as suas atividades interrompidas por força das medidas de isolamento social.

"Na regulamentação da lei, os recursos ficaram divididos de maneira que caberá à Secult a distribuição da renda emergencial e aos municípios a destinação dos subsídios para espaços. Vamos divulgar todas as etapas e critérios em nosso site e nas redes sociais da secretaria. A Secult ainda pode realizar ações como editais, chamadas públicas, prêmios, aquisição de bens e serviços vinculados ao setor cultural", disse o titular da pasta.

Em agosto, o setor pediu protocolos de reabertura à Frente Parlamentar de Proteção e Recuperação Econômica e Social do Empreendedorismo Capixaba. Os trabalhadores já vinham pleiteando a inclusão do setor nos estudos de Matriz de Risco da Covid-19.



Sem perspectivas

"São seis meses sem qualquer tipo de renda! De março até agora, cerca de 800 eventos deixaram de acontecer no Espírito Santo. Atividades como drive-in já se mostraram não ser rentáveis. E, agora, devem estar sendo menos rentáveis ainda, já que bares, restaurantes, shoppings e outras opções de lazer abriram as portas. Enquanto isso, seguimos tendo reuniões com o governo, mas ainda não há qualquer perspectiva de retomada do setor", afirmou Márcio.

Para combater a crise durante a pandemia, o empresário explicou que a união foi uma alternativa que ajudou famílias que vivem da indústria do entretenimento no estado. Dessa união surgiu o movimento #juntospeloentretenimentoES que, segundo ele, representa os 50 maiores produtores de eventos e casas de shows e espetáculos.

Dentro desse projeto há outras iniciativas, como o Movimento SOS Graxa, que representa os seguranças, carregadores, profissionais de limpeza, técnicos, entre outros. O projeto arrecada doações para pessoas que trabalham com som, luz e outras atividades que envolvem eventos.



Entretenimento segue proibido

No dia 11 de setembro o governo do Estado anunciou a liberação de eventos para até 100 pessoas a partir do dia 21 deste mês. Além disso, o governador Renato Casagrande (PSB) determinou que o quantitativo deve ser definido de acordo com o tamanho do local.

Na mesma reunião, o governador Renato Casagrande afirmou que novas portarias seriam publicadas ainda em setembro, estabelecendo medidas a respeito de biossegurança.

A medida, no entanto, não agradou aos profissionais de entretenimento, já que apenas os eventos sociais como casamentos, aniversários e reuniões desse tipo estão liberados. A medida ainda veta a presença de menores de 18 anos nesses locais e determina o cumprimento dos protocolos impostos pelo Executivo.

De acordo com Felipe Fioroti, proprietário de uma casa de shows, já existem eventos desse tipo sendo realizados de forma ilegal no Espírito Santo. "Eu acredito que nem o governo federal, nem o estadual, muito menos o municipal têm dado, efetivamente, auxílio ao segmento. Também sei que o entretenimento já está funcionando de maneira 'clandestina', e que isso está gerando enormes injustiças com as empresas sérias e maiores pagadores de impostos, haja vista que as principais empresas são as mais visadas pela imprensa e opinião pública", afirmou o empresário.

Ele também alega que, como os números da Covid-19 no estado têm se mostrado mais baixos é fundamental pensar na retomada das atividades desse setor. "Os casos só diminuem. Os hospitais estão vazios, e acabar com a doença é utopia. Está na hora de retomar todas as atividades com protocolos e incentivar o isolamento vertical enquanto uma eventual vacina não chega", disse.



Matriz de risco

A Matriz de Risco do governo estadual é uma espécie de mapa que considera diversos fatores para balizar as ações do Executivo diante do cenário de crise. Em agosto, o setor cultural foi incluído na matriz. O mesmo pedido vem sendo feito pelos profissionais do entretenimento. Durante uma das reuniões virtuais da Frente Parlamentar de Proteção Econômica e Social do Empreendedorismo Capixaba, o secretário estadual de Turismo, Dorval Uliana, informou que o setor de entretenimento também será contemplado na nova matriz. Segundo ele, um novo documento está sendo elaborada pelo governo do Estado e contemplará o setor de entretenimento.

Segundo Fioroti, o setor tem feito sua parte e, unido, apresentou ao governo diversos planos para retomada organizada e responsável. Representantes do setor questionam a falta de retorno às propostas por parte do Executivo.

O empresário ainda relata que, embora sejam representados pelo Sindicato das Empresas de Promoção, Organização e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos em Geral (Sindprom/ES) e pela Associação de Empresas de Eventos (Abeoc), ainda falta mais estrutura para o retorno das atividades.

Um diálogo foi estabelecido pela categoria com o Executivo, por meio da Secretaria de Turismo, para que esses profissionais fossem inseridos na matriz de risco, o que ainda não aconteceu.

"Fizemos estudos e propusemos uma matriz de retomada para nosso setor, encaminhamos, através da Secretaria de Turismo, pesquisas de outros estados e até de outros países para retomada dos eventos de forma segura, de acordo com o declínio da pandemia", declarou Fioroti.



Futuro

Para Romero Figueiredo, produtor de shows e dono de banda há mais de 20 anos, os prejuízos para o setor são incalculáveis e a incerteza diante de um recomeço lento torna o cenário ainda mais nebuloso. Segundo Romero, locais que antes contratavam banda, hoje contratam apenas um músico, que tem que fazer o trabalho de técnico, produtor e todas as atribuições que antes eram realizadas por uma equipe.

"Muitas bandas e produtores pararam, se desorganizaram, deixaram de dar sequência às agendas, e faliram. Os donos de projetos autorais também pararam de gerar receita. Hoje, com a abertura de bares e restaurantes, os cachês baratearam porque esses locais funcionam com público reduzido. Os eventos no sistema drive-in comportam apenas 100 carros, mas esta modalidade ainda é nova e as pessoas estão tentando se adaptar. A retomada está bem lenta", avaliou.

Romero aposta em elementos como trabalho conjunto, solidariedade e criatividade. Para ele, a crise trouxe várias lições e, uma delas, é a necessidade de se reinventar. O produtor observa que com a falta de demanda, tudo acaba barateando.

"Não apenas no ramo do entretenimento, mas em todos os segmentos, as pessoas precisam ser mais solidárias e criativas, formar parcerias e unir o útil ao agradável. Novos dias surgirão com os drive-ins, espetáculos beneficentes e lives corporativas. Quem tiver a habilidade de se associar e trabalhar em conjunto vai sobreviver", afirmou.



Fonte: Assembleia Legislativa ES

 

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Quinta, 28 Março 2024

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